quarta-feira, 8 de abril de 2015

MAZAGÃO: A CIDADE QUE ATRAVESSOU O ATLÂNTICO.


ASPECTOS HISTÓRICOS DE MAZAGÃO: O baluarte português norte africano – Mazaganópolis – A Mazagão Africana.
No século XVI, em 1529, em Marrocos, foi instalado um novo poder árabe denominado de Xerife (chefe militar, político e religioso), que atacou o reino de Fez, também de denominação muçulmana, acusado de pactuar com os católicos com prejuízo à causa islâmica. A luta religiosa já se fazia sentir entre as duas religiões. Nas ruas de Fez a frase que mais se repetia pelos seguidores de Maomé era: “guerra aos cristãos”.
Procurando encontrar a predominância guerreira-religiosa no Norte da África, em 12 de fevereiro de 1549, D. João III decidiu mandar construir em Alcácer Quibir um forte para a defesa da cidade e para servir de um possível refúgio. As então praças lusitanas sediadas no Norte da África, já estavam, sob grave perigo, entre elas Mazagão.
Em junho de 1549, para enfrentar a difícil situação norte africana, o rei D. João III, pediu auxílio da Espanha, para recrutar 5 mil combatentes em Castela, Carlos I. Todavia, apesar do perigo comum árabe, nenhum apoio foi dado aos portugueses.
Foi nessa “guerra santa”, entre cristãos e mouros (Africanos islamizados), na região marroquina, em uma dessas batalhas, que vários lusitanos perderam a vida e muitos ficaram feridos, entre eles um soldado, que recebeu um ferimento no olho, que vazou. Nada mais era do que Luiz Vaz de Camões, que mais tarde se imortalizaria na literatura Universal.
A bravura lusitana continuava no Norte da África durante o século XVI. Em maio de 1562, 150 mil mouros que tinham a comanda-los um general de 20 anos, Melel Mohamed, que durante 65 dias sitiaram Mazagão, cuja praça de guerra foi defendida até por mulheres com crianças ao colo, ajudando às poucas centenas de soldados portugueses a repelir os ferozes mouros. No final da Batalha mais de 25 mil soldados mouriscos estavam mortos em torno da cidade. Os portugueses não chagaram de 117 mortos e 270 feridos, segundo o capitão interino da Mazagão Africana Rui de Sousa Carvalho. Foram dois meses e meio de luta. Com excessao de Tanger, Ceuta e Mazagão, os mouros dominavam todo o Norte da África.
É nessa característica de luta e dependência econômica à coroa portuguesa, que o principal ministro do rei D. José I, no século XVIII, Marquês de Pombal recebe a Mazagão Africana. O Marquês, atento às tradições, aos méritos, à situação de cada família, resolve desativar a cidade de Mazagão, que tantos gastos faziam numa guerra inglória ao interesse econômico e religiosos dos portugueses, que por esse interesse morria-se. Por Carta Régia (Carta Real), Portugal desativou um dos últimos baluartes da “cavalaria medieval”, da “guerra santa” – luta contra os hereges mulçumanos / mouros – e da presença lusa no norte da África.
Desativada a cidadela da Mazagão Africana (Mazaganópolis) pela Carta Régia de 10 de março de 1769, decretada pelo Rei D. José I, o Marquês de Pombal toma as providências necessárias para transferir as 340 famílias portuguesas sediadas no último reduto português do continente africano.
Quando deixam a região marroquina, os mazaganistas, assim eram chamados, na desativada Mazagão, antes de deixarem aquele castelo, minaram-no todo, e após a saída, conduzindo os objetos de valor, atearam fogo ao estopim ligado às minas, destruindo-o completamente. Apesar disto, os mouros ocuparam a região por ordem do seu rei.
Após a transferência das famílias do Marrocos para Portugal, ficou a cargo do ex-governador do Grão-Pará e Maranhão, na época trabalhando em Portugal na função de Secretário de Estado dos Negócios e da Marinha e Domínios Ultramarinos. Este entrou em contato com o então governador do Grão-Pará, Ataíde Teive, pra providencias o alojamento para essas famílias.
O governador Ataíde Teive, para alojar esses colonos, mandou construir um povoado às margens do rio Mutuacá. Em 7 de junho de 1770, começaram a ser transferidas 136 famílias para a Nova Mazagão (hoje Mazagão Velho), como passou a denominar-se o lugar, desde o dia 23 de janeiro de 1770, quando foi elevada à categoria de vila.
Foi na região da África que se verificou o heroísmo lusitano nas lutas constantes contra os seguidores de Maomé, nas célebres batalhas entre cristãos e mouros. Foi nos desfechos destas batalhas que surgiu a lenda de São Tiago, santo que ajudava os portugueses nessas batalhas, até hoje relembradas no mês de julho na histórica e secular vila de Mazagão Velho, resquício de nossa História Amazônica nos seus primórdios.

A Mazagão AmazônicaEm 1769, sob as ordens de D. José I, Mazaganópolis foi desativada em função do fator das famílias portuguesas (cristãs) viverem em constantes ameaças de ataques do dos Mouros (africanos islamizados).
Em 1770, desembarcaram em Belém, 340 famílias portuguesas, num total de 1022 pessoas, fugindo do castelo da Mazagão Africana, ficam hospedados em Belém até junho de 1771.
Das 340 famílias, 163 foram transferidas para a Mazagão Amazônia, as outras se estabeleceram na região de Belém e em Macapá – nesta ficaram a maioria dos oficiais.
O projeto pombalino para a Mazagão Amazônica previa a implantação de um grande pólo agrícola especialmente para o cultivo do arroz e algodão, este projeto visava abastecer as vilas do Grão Pará.
Desdobramentos sociais, políticos e econômicos...Quando da composição da Câmara Municipal Mazaganense, foi nomeado vereador-presidente o fidalgo João Froés de Abreu. Após seu falecimento em 13 de janeiro de 1772, o capitão Manoel Lobo D’Almada ficou responsabilizado pela vila, assumiu oficialmente a função de presidente da Câmara Municipal e impulsionou o progresso da Nova Mazagão (Mazagão Amazônica).
Mas foi na administração dôo sargento-mor, Izidorio José da Fonseca Cabral de Mesquita, que a vila prosperou. Assumiu em 25 de abril de 1775, e em 1778 se cultivava na região, algodão e arroz, chegando a produção do cereal a ser tão elevada que abastecia o comercio da cidade de Belém.
Em 1781, uma epidemia de cólera atingiu a região, vitimando dezenas de mazaganenses, prejudicando profundamente a economia do município, cuja produção de algodão e arroz deixou de atender a demanda interna. Em meados de 1782 por meio de intensos auxílios da Vila de Macapá e da Cidade de Belém, a moléstia foi controlada e as atividades agrícolas retomadas, mas sem a celeridade de outrora.
Em 1833 é extinta Mazagão Velho de sua categoria de vila, tendo o seu nome mudado para “Regeneração”, ficando sua jurisdição subordinada a vila de Macapá.
Em 30 de abril de 1841, Mazagão Velho tem a categoria de vila restaurada, com seu primitivo nome.
A partir de 1840 inicia-se o processo de declínio econômico e populacional da Mazagão Velho, por alguns fatores:
- As doenças, principalmente a malária, entre outras, por fator de insalubridade da região;
- A má administração pública;
- A falta de acessibilidade, que só podia ser feito pelo rio Mutuacá;
Era uma vila apertada, de melancólico recesso, que só podia agradar aos moradores já acostumados àquela vida.
Em 19 de abril de 1888, Mazagão Velho é elevada à categoria de Cidade, pelo Governo da Província do Pará.
Em 1907, foram fixados os limites de Mazagão Velho com seus municípios vizinhos, pelo Governo do Estado do Pará.

A fundação da Mazagão Novo ou Mazaganópolis
Em detrimento da situação econômica, social e política da Mazagão, resolveu-se em 1915 autorizar a incorporação deste burgo ao município de Macapá, não sendo aceito pelos mazaganistas, pois não queriam perder a independência político-administrativa, decidindo-se pela transferência da estrutura político-administrativa e social para um novo local.
A área escolhida ficou situada ao norte da antiga Mazagão Velho e mais próximo da cidade de Macapá, em frente de um furo que tem o nome de “Beija flor”: entre o rio vila Nova e o braço esquerdo do rio amazonas.
Os direitos de cidade de Mazagão Velho foram revogados pela Lei do Estado do Pará n° 46;
Em 15 de novembro de 1915 foi criada a Nova Mazagão ou Mazaganópolis, sendo algumas famílias transferidas da antiga Mazagão para esta recém criada: sede do território municipal.
Para se chegar na Mazagão Nova ou Mazaganópolis, por terra, vai-se através de uma estrada vicinal à rodovia Duque de Caxias, em torno de 40 Km de distância desta rodovia. Seus limites podem ser caracterizados assim: Ao norte: municípios de Amaparí, Porto Grande e Santana; Ao Sul: Vitória do Jarí; ao Leste: Rio Amazonas e a Oeste: Laranjal do Jarí.
A festividade de São TiagoEm Mazagão tem hoje especial relevo o combate de Santiago Matamouros. Numa comunidade que tem origem na África mulculaman, nas terras dos mouros – a fortaleza de Mazagão era um posto avançado no combate contra os infiéis, para as bandas de Alcácer el Quibir , onde desapareceu o rei D. Sebastião antes de vir ressurgir a lenda nessas suas terras do Brasil.
Na representação da batalha imaginário, inicia-se com a entrega de presentes envenenados aos cristãos. Desconfiados, estes deitam parte aos animais da mouraria. À noite, em baile de máscaras que os traiçoeiros oferecem – já comemorando antecipadamente sua vitória, os cristãos disfarçados, comparecem levando o resto da comida. Perdem os infiéis, nesta tragédia de enganos, seu rei Caldeira.
O novo rei é uma crianças, caldeirinha. Recomeça a Luta. Mandam agora o Bobo Velho, que não é bobo mas espião. Os de Portugal, que também não são bobos, apedrejam-no. E mandam seu espião, Atalaia. Heróico, Atalaia rouba o pavilhão do crescente, mas, pego, é decapitado.
A seguir Caldeirinha seqüestra e vende as crianças cristas. Inicia-se finalmente a batalha feroz, num dia prolongado pela divindade para ver a derrota do povo infiel. E o baile do Vomite consagra e congraça a população de Mazagão.

O presente texto, ao tratar de questões referentes a História de Mazagão, utiliza informações das seguintes bibliografias:
PICANÇO. Estácio Vidal.. Informações sobre a História do Amapá. Imprensa Oficial. 1985.
SANTOS, Fernando Rodrigues dos. HISTÓRIA DO AMAPÁ, Ed. Valcan Ltda.
SARNEY, José; COSTA, Pedro. Amapá: A terra onde o Brasil começa. Edições do Senado: Brasília, 2004.
O texto não faz referência às idéias e aos autores em sua concomitância por questões didáticas, abandonando, assim, as normas da ABNT, por não se tratar de um trabalho propriamente científico.

Ao estudar História lembre:
A finalidade da História é entender o presente com os respaldos dos desdobramentos factuais que levaram à conjuntura constitutiva de uma realidade contemporânea ao pesquisador. Assim: para a História a realidade hoje é fruto de ações humanas, que refletem nos aspectos das estruturas sociais, econômicas, culturais e políticas nas quais o homem é autor e está inserido.
Para a História, tudo teve um início... Tudo é fruto de uma ação... Para entender, então, o resultado de uma ação, é preciso compreender o processo que levou ao fim... ao resultado...

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